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segunda-feira, 10 de abril de 2017

Quadros Parisienses - Charles Baudelaire

LXXXVII - O sol

Pela velha avenida, onde pende aos tugúrios
Muita persiana, abrigo de atos espúrios,
Quando esse sol cruel bate em raios fatais
Sobre a cidade e o campo, os tetos e os trigais,
Exerço-me sozinho a fantástica esgrima,
Cheirando em todo canto os acasos da rima,
Tropeçando em palavras como em chão calçado,
Chocando muita vez em verso já sonhado.

Esse pai provedor, arredio a cloroses,
Desperta pelo campo os vermes como rosas;
E faz evaporar para o alto céu cuidados,
As mentes e os favos de mel torna recheados.
Ele é quem revigora o que anda de muletas
E os torna, quais meninas, tão doces e ledas,
Faz a messe crescer e logo estar madura
No coração mortal que só florir procura!

Quando, como um poeta, ele às cidades chega,
Torna mais nobre a sorte das coisas mais piegas,
E introduz-se qual rei sem valete ou rumor,
Nos hospitais e nos palácios de esplendor.

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

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