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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Confissão - Spleen e Ideal - Charles Baudelaire.

XLV - Confissão

Uma vez, uma só, meiga e doce mulher,
O vosso braço ao braço meu
Se apoiou (e no fundo escuro do meu ser
Essa lembrança não morreu);

Era tarde; assim como um broche luzidio
A lua cheia se espalhava,
E essa pompa da noite, como um grande rio
Paris já dormente inundava.

E, ao longo das mansões, que escancaram portões,
Iam gatos furtivamente,
Orelhas a espreitar, ou, sombrias visões,
Seguiam-nos bem lentamente.

Subitamente, em meio à intimidade livre
Aberta à frouxa claridade,
De vós, rico e sonoro instrumento onde vibra
Só a radiante hilaridade,

De vós, clara e alegre tal como fanfarra
Na manhã toda faiscante,
Uma nota chorosa, uma nota bizarra
Escapou, cambaleante

Como um ser muito fraco, feio, escuro, imundo,
De que a família se pejava
E que, por muito tempo, afastado do mundo,
Em negro porão ocultava.

Pobre anjo, ela cantava, em tom esganiçado:
"Como no mundo tudo é engano,
E sempre, por mais que ele esteja disfarçado,
Se trai o egoísmo humano;

Como é dura a tarefa da mulher bonita,
E que trabalho tão banal
É o da louca, da fria dançarina que agita
O seu sorriso maquinal;

Como é tolo construir algo nos corações;
Tudo desaba, amor, beleza,
Até que o Olvido os lance em seus cestões
E os devolva à Eternidade!".

Evoquei vezes mil esta lua encantada,
Este silêncio e este langor,
E a confidência horrível cochichada
Do coração ao confessor.

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

Reversibilidade - Spleen e Ideal - Charles Baudelaire.

XLIV - Reversibilidade

Anjo pleno de ardor, conheceis vós o enfado,
Por vergonha ou remorso, por ais ou açoites,
E esses vagos terrores, pavorosas noites
Que o peito apertam como um papel amassado?
Anjo pleno de ardor, conheceis vós o enfado?

Anjo pleno de amor, conheceis vós a ira,
Mãos crispadas na sombra e lágrimas de fel,
Quando a vingança bate o apelo cruel,
E faz de nossas mentes sua capitania?
Anjo pleno de amor, conheceis vós a ira?

Anjo de pleno vigor, conheceis vós as Febres,
Que ao longo das paredes do hospital nefando,
Como exilados vão os seus pés arrastando,
Os lábios a mover e o sol raro buscando?
Anjo em pleno vigor, conheceis vós as Febres?

Anjo em plena beleza, as fundas rugas vedes,
E o medo da velhice, e a mais triste aflição
De ler o horror secreto da dedicação
Nos olhos onde há tempo matamos a sede?
Anjo em plena beleza, as fundas rugas vedes?

Anjo em pleno gozar de luz e de alegria,
Davi sua saúde, morrendo, ia pedir¹
Aos eflúvios que o vosso corpo desprendia
Mas de vós só orações, anjo, eu pediria,
Anjo em pleno gozar de luz e de alegria!

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

¹ "Davi sua saúde, morrendo, ia pedir": alusão a passagem bíblica em que os servos do já bastante velho Davi trazem uma jovem para que esta o aqueça, dormindo ao seu lado. (N. do E.)

A tocha viva - Spleen e Ideal - Charles Baudelaire

XLIII - A tocha viva

Eles vão frente a mim, Olhos como clarões,
Que um Anjo sapientíssimo acaso há imantado;
Eles vão, os divinos irmãos, meus irmãos,
Sacudindo em meus olhos fogos diamantados.

Livrando-me de embuste e de todo pecado,
Conduzem cada passo ao Belo à minha frente;
São meus servos, a eles sou escravizado;
Meu ser todo obedece a essa tocha vivente.

Olhos de encantos, vós brilhais com claridade
Divina, círios diurnos ardendo; brilha o sol
Mas não lhes tolda a luz e a vivacidade;

Eles cantam a Morte, cantais o Arrebol;
O arrebol de minha alma andais vós a cantar,
Astro a que sol nenhum pode a chama apagar!

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

Spleen e Ideal - Charles Baudelaire

XLII

Que dirás esta noite, ó pobre alma isolada,
Que dirás, coração, outrora fenecido,
À muito bela, à muito boa, à muito amada,
Cujo divino olhar te fez reflorescido?

- Poremos nosso orgulho em cantar seu louvor;
Nada vale o dulçor de sua autoridade;
Sua carne espiritual tem dos Anjos o olor,
E seus olhos nos dão roupas de claridade.

Quer seja pela noite ou pela solidão,
Quer seja na cidade em meio á multidão,
Seu fantasma no ar dança como fanal.

Às vezes fala e diz: "Eu sou bela, sou dona,
E pelo meu amor mando que ameis o Ideal;
Eu sou o Anjo da guarda, a Musa e a Madona".

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Spleen e Ideal - Charles Baudelaire

XLI - Toda inteira

O Demônio nesta minha alta
Mansarda hoje veio me ver,
E tentando apanhar-me em falta,
Disse-me: "Eu queria saber,

Entre as coisas todas formosas,
De que se faz sua beleza,
Entre objetos negros ou rosa
Que lhe dão corpo de princesa,

Qual é o mais doce", - Ó minha alma!
Respondeste assim ao Bandido:
"Pois que em tudo ela tem a palma
Do belo, nada é preferido.

Quando a mente se enleia, ignora
Se alguma coisa me seduz.
Ela me ofusca como a Aurora
E consola em Noite sem luz;

E a harmonia é tão diferente,
Que lhe dá as formas esguias
Para que a análise impotente
Lhe note as muitas melodias.

Ó metamorfose divina
Que os meus sentidos todos une!
Seu hálito a música afina
Como sua voz faz o perfume!".

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Semper eadem - Spleen e Ideal - Charles Baudelaire.

XL - Semper eadem¹

"De onde vem", dizíeis vós, "tristeza tamanha,
A subir como o mar negra rocha despida?"
 - Quando o coração fez sua colheita estranha,
Viver já é um mal, dor por nós conhecida.

Uma mágoa tão simples, nada misteriosa,
E, qual vossa alegria, pra todos patente,
Cessai, pois, de buscar, ó bela curiosa!
E mesmo tendo voz suave, sê silente!

Sê silente, ignorante! Alma sempre aturdida!
Boca de riso infante! Ainda mais que a Vida,
A morte nos segura em laço singular.

Deixai meu coração fartar-se de mentira,
Lançar-se em vosso olhar como em sonho se atira,
Sob esses vossos cílios sempre dormitar.

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

1. Semper eadem: palavras latinas que podem estar no feminino singular - e nesse caso significariam "sempre a mesma", "sempre igual  a si mesma" -, ou podem estar no neutro plural, significando, então, "sempre as mesmas coisas". Ambas as interpretações cabem no contexto. (N. do T.)

Spleen e Ideal - Charles Baudelaire.

XXXIX

Estes versos te dou a fim que, se meu nome
As eras afastadas, com sorte abordar,
E nas mentes humanas sonhos despertar,
Velas a enfunar um aquilão enorme,

Tua memória, tal histórias fugitivas,
Como um tímpano vá fatigar o leitor,
E por fraterno e místico elo de amor
Fique apensa a estas minhas tão altivas;

Ente maldito a quem, desde o abismo de breu
Até o alto céu, nada atende, só eu!
- Ó tu que, como sombra, de efêmeros traços,

Calcas com pé ligeiro, a olhar no horizonte,
Os néscios a julgar amargos os teus passos,
Estátua olhos de jaspe, anjo de érea fronte!

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

Um fantasma - Spleen e Ideal - Charles Baudelaire.

XXXVIII - Um fantasma

I - As trevas

Nos porões de tristeza insuspeitada
Onde o Destino já me relegou,
Onde nunca entra um raio cor rosada,
Onde a Noite, hospedeira malfadada,

Sou qual pintor a que algum Deus zombeteiro
Condena a pintar quadro, o mais horrendo,
Onde, a apetites fúnebres cozendo,
Meu coração eu fervo e como inteiro,

Por instantes reluz, longo, ao redor
Um espectro de graça e de esplendor,
Ao jeito seu sonhador oriental,

Ao atingir seu tamanho total,
Revejo a minha bela visitante:
É Ela! Toda negra, mas brilhante.

II - O perfume

Leitor, já tens acaso respirado,
Com uma gulodice lenta e grave,
O grão de incenso que preenche a nave
Ou o almíscar, em saco, inveterado?

Encanto fundo, mágico, a inebriar,
No presente o antanho restaurado!
O amante, assim, sobre um corpo adorado,
Do recordar colhe uma flor sem par.

De seu cabelo solto e balouçante,
Subia odor agreste e alucinante,
Vivo sachê, turíbulo de alcova,

E da roupa, veludo ou musselina,
Sempre guardando o cheiro de menina,
Emanava um odor de pele nova.

III - A moldura

Como bela moldura destaca a pintura,
Mesmo que seja esta de um pincel cotado,
Um não sei quê de estranho e mesmo de encantado
Ao mantê-la isolada da imensa natura,

Assim as joias, móveis, ouros ou metais,
Ajustavam-se a sua tão rara beleza;
Nada lhe ofuscaria a perfeita clareza,
Parecendo servir de quadros naturais.

Até mesmo diria, às vezes, que ela achava
Que aquilo tudo era amor, ela afogava
A nudez da volúpia daquele momento,

Nos beijos dos lençóis de um alvo e puro linho,
E, lenta ou bruscamente, a cada movimento
Tinha aquele infantil jeito de um macaquinho.

*V - O retrato

Doença e Morte cinzas de repente
Fazem do fogo que por nós flambou,
Dos grandes olhos tão ternos, ferventes,
Da boca em que minha alma se afogou,

Desses beijos qual ditame potente,
Dos transportes mais vivos do que os raios,
Que resta? Ó alma minha, é deprimente!
Nada mais que um rascunho ou que ensaios,

Que, como eu, morrem na solidão,
E em que o Tempo, injuriosos ancião,
Dia a dia faz com a asa algum desgaste...

Negro assassino da Vida e da Arte,
Jamais hás de matar-me na memória
Aquela que me foi prazer e glória.

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

*Há a possibilidade de ser um erro de digitação ou foi intencional pelo autor.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

O possesso - Spleen e Ideal - Charles Baudelaire.

XXXVII - O possesso

Cobriu-se o sol de um negro véu. Por tua vez,
Lua da minha vida! na sombra te enfia,
Dorme ou fuma à vontade; sê muda e sombria,
E no abismo do Tédio cairás talvez.

Amo-te assim! No entanto, hoje, se quiseres,
Como um astro eclipsado que da sombra emana,
Exibir-te em lugar em que a Loucura plana,
Pois bem! Punhal charmoso, sai do estojo e fere!

Acende a tua pupila na chama dos lustres!
Acende o teu desejo nos olhares rústicos!
Tudo em ti me é prazer, mórbido ou petulante;

Sê o que quiseres, noite escura ou alva de ouro;
Não há nenhuma fibra em meu corpo arquejante
Que não clame: Ó meu caro Belzebu, te adoro!

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

domingo, 19 de fevereiro de 2017

Spleen e Ideal - Charles Baudelaire.

XXXVI - O balcão

Mãe de toda lembrança, amante das amantes,
Ó tu, o meu prazer! Tu, todo o meu dever!
Tu lembrarás, por certo, os afagos constantes,
A doçura do lar e o doce anoitecer,
Mãe de toda lembrança, amante das amantes!

As noites alumiadas no ardor do carvão,
E as noites no balcão, veladas de ondas róseas,
Quão suave era o teu seio! E bom o coração!
Dissemos vezes mil imorredouras coisas,
As noites alumiadas no ardor do carvão,

Que belos são os sóis nas noites aquecidas!
Como o espaço é profundo! e o coração potente!
Ao debruçar-me em ti, rainha das queridas,
Eu cria respirar esse teu sangue olente.
Que belos são os sóis nas noites aquecidas!

Ficava a noite espessa qual biombo então,
E os meus olhos, no escuro, os teus olhos achavam
E eu bebia teu sopro, ó doçura! ó poção!
Teus pés nas minhas mãos irmãs já dormitavam.
Ficava a noite espessa qual biombo então.

Sei a arte de evocar os minutos ditosos,
E revivo o passado ao teu joelho abraçado.
Pois que adianta buscar os teus dengos langorosos
Fora do corpo teu e coração amado?
Sei a arte de evocar os minutos ditosos!

Essas juras, perfumes, beijos infinitos,
Renascerão de abismo a nós interditados,
Como sobem ao céu os sóis já reunidos
Após serem nos mares profundos lavados?
- Ó juras! Ó perfumes! Beijos infinitos!


BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

sábado, 18 de fevereiro de 2017

Spleen e Ideal - Charles Baudelaire.

XXXV - Duellum

Dois guerreiros correram um para o outro; as armas
Salpicaram o ar de sangue e de clarões.
Os jogos, tilintar do ferro, são alarmas
De juventude presa ao nascer das paixões.

Os gládios se quebraram! Como a mocidade
Querida! Mas as unhas, dedos acerados,
Logo vingam a espada e a adaga da maldade.
Furor de corações pelo amor ulcerados.

Na ravina infestada e de onças e guepardos
Os heróis, se agarrando, rolaram irados,
Sua pele vai florir a aridez do cerrado.

- Esse abismo é o inferno de amigos povoados!
Rolemos assim sem remorso, amazona inumana
A fim de eternizar a nossa raiva insana!

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

Spleen e Ideal - Charles Baudelaire.

XXXIV - O gato

Vem, belo gato, em meu peito amoroso;
Recolhe as garras da tua pata,
E deixa entrar em teu olhar formoso
Mesclado de ágata e prata.

Quando os dedos carinhosos vêm fazer
Em tua cabeça e dorso inflado,
E a minha mão se embriaga de prazer
Palpando o corpo eletrizado,

Vejo minha mulher. O seu olhar,
Tal como o teu, caro bichano,
É fundo e frio, como um dardo a cortar,

E da cabeça ao pé pequeno,
Com ar sutil, um perigoso odor
Nada por seu corpo moreno.

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Spleen e Ideal - Charles Baudelaire.

XXXIII - Remorso póstumo

Quando dormires, minha bela tenebrosa,
Num monumento de marmórea construção,
E não tiveres por alcova ou por mansão
Mais que um porão chuvoso e uma profunda fossa;

Quando a pedra, a oprimir-te a carcaça medrosa
E os flancos que suaviza descuidado andar,
Ao coração bater ou querer já negar,
E a teus pés correr corrida aventurosa,

A tumba, confidente do meu sonho infindo
(Visto que a tumba entenderá sempre o poeta),
Durante as grandes noites de sono banido,

Dir-te-á:"Cortesã, qual é a tua meta
Ao não reconhecer o que choram os mortos?".
- E os vermes te roerão a pele quais remorsos.

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Spleen e Ideal - Charles Baudelaire.

XXXII

Uma noite estava eu junto à horrível judia,
Como ao pé de um cadáver estendido,
E pus-me a imaginar junto ao corpo vendido
Essa triste beleza de que eu prescindia.

Representei-me sua majestade nativa,
Seu olhar de vigor e de graça dotado,
Seus cabelos fazendo um elmo perfumado,
Cuja recordação ao amor me reaviva.

Pois tivera eu com ardor o teu corpo beijado,
E desde os frescos pés até as negras madeixas
Desfiado o tesouro de amorosas queixas,

De uma noite, num pranto fácil arranjado,
Ó das cruéis rainha, talvez poderias
Toldar esse esplendor de tuas pupilas frias.

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

Spleen e Ideal - Charles Baudelaire

XXXI - O vampiro

Tu que, qual fosse uma facada,
Entraste em minha alma chorosa;
Tu que, tão forte qual manada
De demos, vieste, louca e airosa,

De meu espírito humilhado
Fazer teu leito e possessão
- Infame a quem estou ligado
Como um galé ao seu grilhão,

Como ao jogo o homem viciado,
Como bêbado ao garrafão,
Vermes ao corpo já estragado
- Maldita sejas! Maldição!

Ao rápido gládio roguei
Me conquistasse a liberdade,
E ao cruel veneno implorei
Me ajudasse a fraca vontade.

Que pena! O gládio e o veneno
Com desdém disseram-me assim:
"Tu não mereces gesto ameno,
Terás cativeiro sem fim.

Ó imbecil! - se a nossa lida
Te livrasse de seu martírio,
Teus beijos iriam dar vida
Ao cadáver do teu vampiro!".

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Spleen e Ideal - Charles Baudelaire.

XXX - De profundis clamavi¹

Imploro a tua piedade, Tu, único amor,
Do escuro abismo em que caiu meu coração,
É um universo morno de plúmbeo desvão,
Onde nadam à noite a blasfêmia e o horror;

Sol falto de calor paira acima seis meses,
Noutro seis meses noite a terra vem toldar;
É um lugar mais nu do que a terra polar;
- Nem bichos, nem riachos, nem matas, nem messes!

Orá, não há horror nesse mundo maior
Que a fria crueldade de um sol sem calor
E esta imensa noite ao velho Caos igual;

Eu tenho inveja até desse vil animal
Que pode em sono estúpido até mergulhar,
Tão lenta é a meada do tempo a desafiar!

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

¹De profundis, salmo 130, é um dos salmos penitenciais da igreja católica. A linha inteira do verso em latim é De profundis clamavi ad te, Domine, "Das profundezas clamo a ti, ó Senhor". (N. do T.)

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Uma carniça - Spleen e Ideal - Charles Baudelaire.

XXIX - Uma carniça

Lembrai-vos, ó minha alma, do objeto à vista,
Naquele belo dia de verão:
À beira de um caminho, a nojenta carniça
Nos calhaus semeados no chão,

Qual lúbrica mulher, de pernas para o ar,
Ardente e a suar o veneno,
Abria de maneira cínica e vulgar
Seu ventre e exalações pleno.

O céu lançava os raios sobre essa impureza
Como para assim cozinhar
E ao cêntuplo volver à grande Natureza
Tudo que pudera juntar;

E ali o céu contemplava a carcaça soberba
Como uma flor desabrochar.
Era tão forte o fedor que sobre a relva
Acháveis que íeis desmaiar.

Zumbiam moscas mil sobre o pútrido ventre
De onde saíam batalhões
De larvas como espesso líquido vertente
Ao longo desses vivos aleijões.

Tudo isso descia e subia qual vaga,
Ou se lançava cintilando;
Dir-se-ia que o corpo cheio de ânsia vaga
Vivia em se multiplicando.

E esse mundo emitia música esquisita.
Como a água corrente e o vento,
Ou o grão que o joeireiro no compasso agita
E revolve num ritmo lento.

As formas se apagavam, apenas se imagina,
Um esboço lento a chegar,
Sobre a tela esquecida e que o artista termina
Simplesmente por se lembrar.

Uma cadela inquieta por trás do rochedo,
Lança um olhar desenxabido,
Espiando a hora de pegar esse esqueleto
O seu pedaço já lambido.

- No entanto vós sereis igual a essa feiura,
A essa horrível infecção,
Estrela dos meus olhos, sol meu da natura,
Vós, meu anjo e minha paixão.

Sim! Tal sereis um dia, ó rainha das graças,
Depois da santa extrema-unção,
Quando fordes, debaixo dessas relvas grassas,
Mofar de ossadas no montão.

Então, ao verme ide dizer, beleza minha!
Quem vai de beijos vos comer,
Que preservei a forma e a essência divina
De amores a se desfazer!

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

Spleen e Ideal - Charles Baudelaire.

XXVIII - A serpente que dança

Como é bom ver, cara indolente,
                      Do teu corpo belo,
Como um tecido reluzente,
                      Cintilar a pele!

Em tua profunda cabeleira
                      Com acres perfumes
Onda odorante e passageira
                      De azul e negrumes,

Como um navio que desperta
                      À brisa bem cedo,
Minha alma sonhando se apresta
                      A um céu de segredo.

Teus olhos, que nada revelam
                      De suave ou de fero,
São frias jias em que se mesclam
                      O ouro e o ferro.

Ao ver o ritmo em que avanças,
                      Bela em solidão
Dir-se-ia serpente que dança
                      Presa a um bastão.

Ao fardo da tua inteligência
                      A tua fronte infante
Balança com malemolência
                      De um jovem elefante,

E teu corpo se alonga e aderna,
                      Fina caravela
Que oscila bordo a bordo e interna
                      No mar sua vela.

Como onda inchada na fusão
                      De gelos rangentes,
Quando a água sobe em profusão
                      Pra junto aos teus dentes,

Creio beber vinho da Boêmia,
                      Amargo e loução,
Líquido céu que me semeia
                      Sóis no coração!

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

Spleen e Ideal - Charles Baudelaire

XXVII

Com seus vestidos ondulantes, nacarados,
Mesmo quando ela anda parece que dança,
Como as longas serpentes que, dos bruxos sagrados
A ponta do bastão, em cadência, balança.

Como a tépida areia e o azul dos desertos,
Ambos indiferentes à humana doença,
Como o balanço longo dos mares abertos,
Ela se desenvolve com indiferença.

Seus lisos olhos são de gemas deslumbrantes,
E nessa natureza simbólica e amiga
Onde o anjo se mescla com a esfinge antiga,

Onde tudo é só ouro, aço, luz e diamantes,
Resplandece pra sempre, estrela vagabunda,
A fria majestade, a mulher infecunda.

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

Spleen e Ideal - Charles Baudelaire

XXVI - Sed non satiata¹

Bizarra deidade, escura como as noites,
Com perfume mesclado de musgo e de havana,
Obra de algum obi², o Fausto da savana,
Bruxa de ébano, filha de vis meias-noites,

Eu prefiro ao Constância³, ao ópio, ao Noites4,
O elixir de tua boca onde o amor se engalana,
Quando os desejos meus vão a ti em caravana,
Teus olhos são remanso onde o meu tédio apoite.

Por esses olhos negros, respiros de tua alma,
Ó demônio impiedoso! A minha chama acalma;
O Estige5 eu não sou pra dar-te nove abraços,

Ai! Não tenho poder, Megera6 libertina,
Pra quebrar-te a coragem e embargar-te os passos,
No inferno do meu leito virar Proserpina7!

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

¹Sed non satiata, latim, "mas não saciada". (N. do T.)
²Obi: sacerdote africano que pratica magia. É, também, um fruto africano considerado sagrado e largamente usado em rituais. (N. do E.)
³Constância( ou Constantia): vinho de sobremesa sul-africano, produzido com uvas cultivadas no distrito de Constantia, muito apreciado na Europa dos séculos XVIII E XIX. (N. do E.)
4Noites(Nuits):nome de um vinho da Borgonha, França. (N. do E.)
5O rio Estige é um dos rios de Hades, o mundo ctônio da mitologia grega. (N. do E.)
6Megera é uma das três Erínias da mitologia grega(ou Fúrias, na versão romana). (N. do E.)
7Proserpina: deusa romana, filha de Júpiter e Ceres, mulher de Plutão. (N. do E.)

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Spleen e Ideal - Charles Baudelaire

XXV

O universo inteirinho em teu leito porias,
Mulher impura! O tédio faz tua alma fria.
No jogo singular para afiar teus dentes
Na manjedoura alguém tu tens sempre presente.
Teus olhos quais boticas finas a brilhar
E candeeiros brilhando em festa popular,
Usam de um poder falso, que a tudo despreza,
Sem conhecer jamais a lei de sua beleza.

Engenho cego e surdo em crueldades fecundo!
Salutar instrumento sorvendo do mundo
O sangue, como tu não viste frente a tantos
Espelhos ir sumindo todos teus encantos?
O tamanho do mal em que te crês sabida,
Quando a natura, grande em seus planos velados,
Usa-te, ó mulher, rainha dos pecados
- A ti, vil animal, para um gênio plasmar?


Ó barrenta grandeza! Ignomínia palmar!

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

Spleen e Ideal - Charles Baudelaire.

XXIV

Adoro-te tal como a abóbada noturna,
Ó vaso de tristeza, ó grande taciturna,
E te amo tanto mais se tu foges de mim,
E pareces-me, enfeite das noites sem fim,
Mais ironicamente as léguas cumular
Os meus braços da esfera azul a separar.

Eu me lanço ao ataque e ao assalto eu ando,
Como sobre um defunto os vermes vêm em bando.
E gosto, ó implacável fera tão maldosa!
Até dessa frieza a fazer-te formosa!


BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

Spleen e Ideal - Charles Baudelaire

XXIII – A cabeleira

Ó velo, até junto ao colo a se estender!
Ó cachos! Ó abandono que a perfume cheira!
Êxtase! Para a alcova escura preencher
Das lembranças dormentes nessa cabeleira,
Como um lenço agitá-la no ar eu vou querer!

A langorosa Ásia e a África abrasada,
Todo um mundo distante, ausente, quase vão,
Vive nas profundezas, selva perfumada!
Como espíritos outros na música vão,
O meu, ó meu amor! No teu perfume nada.

Irei aonde o homem e a saciada planta
De seiva pasmam sob o tempo mais ardente;
Sede-me, forte trança, a onda que me levanta!
Conténs, ó mar de ébano, um sonho ofuscante
De velas, remadores, mastros flamejantes:

Um esplêndido porto em que minha alma está
A beber o perfume, todo o som e a cor;
Onde os barcos deslizam no ouro e tafetá,
Abrem seus vastos braços a enlaçar a glória,
De um céu puro onde freme o eterno calor.

Enfiarei a cabeça embriagada de amor
Nesse negro oceano em que o outro se enliça;
E minha alma sutil da marola ao sabor
Saberá encontrar-vos, fecunda preguiça,
Balanços infinitos de olente torpor!

Ondas azuis, pendão de trevas estendidas,
Devolveis-me o azul do céu redondo e imenso,
Nas penugens das bordas das mechas torcidas
Embriago-me ardente em fragrâncias unidas
Do óleo de coco, musgo e do alcatrão espesso.

Sim, muito tempo! Sempre! A mão nas tuas tranças,
Vou semear rubis, pérolas e safiras,
A fim de aos meus desejos nunca surda seres!
Não és, acaso, o oásis que sonhos me inspiras,
Onde sorvo abundante o vinho da lembrança?


BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

domingo, 5 de fevereiro de 2017

Spleen e Ideal - Charles Baudelaire.

XXII – Perfume exótico

Quando, de olhos fechados, noite outonal, quente,
Respiro o odor dos seios teus, tão calorosos,
Vejo se desdobrar os paramos ditosos
A que ofuscam os fogos de um sol permanente;

Uma ilha preguiçosa onde dá a natura
Árvores singulares, frutos saborosos;
Homens de corpo forte, esbelto e vigoroso,
E mulheres do olhar da franqueza mais pura.

Por teu olhar guiado às paragens mais belas,
Vejo um porto repleto de mastros e velas,
Ainda fatigados da vaga marinha,

Enquanto esse odor verde dos tamarineiros,
Que circula no ar inflando-me a narina,
Mescla-se na minha alma ao som dos marinheiros.


BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

sábado, 4 de fevereiro de 2017

Spleen e Ideal - Charles Baudelaire.

XXI – Hino à Beleza

Vens do céu mais profundo ou do abismo saíste,
Ó Beleza! O olhar teu infernal e divino
Lança confusamente o bem que há, o mal que existe,
E por isso se pode comparar-te ao vinho.

Nos olhos tu conténs a aurora e o acaso;
Despejas teus perfumes qual noite chuvosa;
Os teus beijos são filtro e tua boa um vaso
Que fazem frouxo o herói e a criança corajosa.

Sais do abissal negrume ou descendes dos astros?
Como um cão o Destino a tuas saias se apega;
Tu semeias ao léu alegria e desastres,
E tu governas tudo e a responder te negas.

Caminhas sobre os mortos, Beleza, faceira;
De tuas jóias o Horror não é a menos atraente,
E o Assassínio, entre as peças de primeira,
Sobre o teu ventre altivo dança amavelmente.

A efêmera ofuscada vai a ti, candeia,
Crepita, inflama e diz: Esta tocha bendigo!
O amante zonzo sobre a bela cambaleia
Parece um moribundo de sua tumba amigo.

Venhas tu dos infernos, do céu, pouco importa,
Beleza! Monstro enorme, espantoso, inocente!
Se o teu olho, o sorriso, o pé, me abrem a porta
De um infinito que amo e nunca fui ciente?

Satã ou Deus, que importa? Anjo ou Sereinha,
Que importa se tu tornas – fada olhos de veludo,
Ritmo, perfume, luar, ó minha só rainha! –
Menos feio o universo e leves os minutos?


BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Spleen e Ideal - Charles Baudelaire

XX - A máscara

Estátua alegórica ao gosto da Renascença

A Ernest Christophe, estatuário.¹

Miremos o tesouro em graças florentinas:
No ondular desse corpo assim tão musculoso
A Elegância e a Força abundam, irmãs divinas.
Essa mulher, pedaço mesmo milagroso,
Divinamente forte, esbelta, fina, exata,
Feita para reinar sobre um leito suntuoso,
E encantar o lazer de um príncipe ou de um papa.

- Assim, vê esse sorriso fino, voluptuoso,
Onde a fatuidade expõe o enlevo seu;
Esse olhar de soslaio, vivo e langoroso;
Esse rosto travesso, envolto em fino véu,
Cujos traços nos dizem com ar vencedor:
"A Volúpia me chama e me coroa o Amor",
A esse ser dotado assim de majestade
Vê que encanto excitante nos dá a bondade!
Cheguemo-nos à volta de seu esplendor.

Ó blasfêmia da arte! Ó surpresa fatal!
A mulher, divo corpo, a prometer amor,
É bicéfalo monstro em seu topo afinal!

-Não! é máscara só, adorno enganador,
Esse rosto a fulgir com um estranho esgar,
E, contempla, aí está, a crispar-se atrozmente,
A verdadeira cara, a face singular
Invertida ao abrigo da face que mente,
Pobre grande beleza! O esplêndido caudal
Dos prantos teus tem foz em meu coração cioso;
Tua mentira embriaga-me e à alma faz bem tal
Que aos borbotões a Dor jorra do teu olhar!

- Mas por que chora ela? Beleza completa
Que poria a seus pés, vencida, a humanidade,
Que mal ignoro rói o seu flanco de atleta?

- Ela chora por ter vivido, ó insanidade!
E porque está vivendo! Mas o que ela deplora
Mais, e a faz agitar-se mesmo estando a sós,
É que amanhã - que dor! - viverá como agora!
Amanhã, e depois, e sempre! Como nós!

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

¹Ernest-Louis-Christophe Aquilas (1827-1892), escultor francês. (N. do E.)

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Spleen e Ideal - Charles Baudelaire.

XIX - A giganta

No tempo em que a Natura em sua verve possante
Cada dia gerava uns filhos monstruosos,
Gostara eu de viver junto á jovem gigante,
Como aos pés da rainha um gato voluptuoso.

Gostara eu de ver sua alma e corpo florir
E em seus terríveis jogos crescer-lhe no olhar;
Se o coração sombrio a chama está a nutrir
No humilde nevoeiro em seus olhos nadar;

Percorrer-lhe à vontade as magníficas formas;
Escalar-lhes as encostas dos joelhos enormes,
E às vezes no verão, quando os sóis malfazejos,

Lassa, a fazem deitar-se através da campanha,
Dormir despreocupado à sombra de seus seios,
Como aldeia tranquila ao pé de uma montanha.

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Spleen e Ideal - Charles Baudelaire.

XVIII - O ideal

Jamais poderão ser as belezas chinfrins,
Produto sem valor de era que se perdeu
Dedos de castanholas, pés de borzeguins,
Que hão de satisfazer coração como o meu.

Deixo para Gavarni¹, poeta das cloroses,
Sua grei barulhenta, belas de hospital,
Pois não posso encontrar entre as pálidas rosas
Uma flor parecida ao meu umbro ideal.

O que em meu coração, no fundo, necessito,
Sois vós, Lady Macbeth, potente no delito,
Sonho de Ésquilo aberto dos suões ao açoite;

Ou tu, de Miguel Ângelo, a grande Noite,
Que torces calmamente, em poses bem estranhas,
Os teus dotes sem par dos Titãs nas entranhas.

BAUDELAIRE, Charles. Flores do Mal. Tradução de Mario Laranjeira. 2ª Reimpressão. Editora Martin Claret. São Paulo, 2014.

¹Paul Gavarni, pseudônimo de Guillaume Sulpice Chevalier (1804-1866), cartunista de grande sucesso nos círculos da época. Ilustrou romances de Balzac e Eugène Sue. (N. do E.)