Uma vez imaginei o silêncio,
nesse mundo moderno
cheio de barulhos
o tempo todo,
carros passando pela avenida,
musicas sendo tocadas altas
e a luz,
insistidamente,
cegam meus olhos.
Não posso dormir,
não posso fugir.
Não fisicamente,
mas as vezes devaneio.
O silêncio...
Parece com a morte,
Mas assemelha-se mais com a vida.
É tão pura...
Assim como o vento,
sua eterna amiga e confidente,
ela faz a minha alma sentir-se plena,
o nada,
o tudo.
Que eu preciso ouvir,
que eu preciso sentir,
que eu preciso ver,
tudo ao mesmo tempo.
E a felicidade, é o resultado dessa química poderosa,
a química natural.
O preço a ser pago para obtê-la é caro,
mesmo que dure brevemente,
é a melhor sensação do mundo,
sua eternidade está em sua brevidade,
que lateja em minhas mãos.
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domingo, 30 de novembro de 2014
sexta-feira, 28 de novembro de 2014
Esperança
Esperando o que nunca virá
Mas o coração insistidamente espera
Espera...
Numa crescente espera,
O que alimenta a expectativa,
Sempre,
É o coração,
Ele espera, espera, espera...
E fantasia o reencontro.
Mesmo que nunca ocorra
Ò ele o deseja!
Ó ele o faz acontecer!
Em seu coração!
terça-feira, 25 de novembro de 2014
Sangue
O sangue
Derramado sob nossas peles
O sangue
Que nem mesmo lavando inúmeras vezes, sai de nossas carcaças,
O sangue que permanece sob a alma.
A morte, está sob nossas mãos.
Nossos lábios,
Nossos corações.
Manchados.
Consegue ver?
Não... Pois você não consegue nem abrir seus olhos,
Quanto mais ver o sangue,
Quanto mais que ele pertence a si próprio.
Consegue sentir?
As facadas que você dá em si mesmo?
Não... Pois você acredita na ilusão de que os outros são os
culpados.
Não consegue enxergar as facadas que você dá em si próprio.
A morte vem...
Com seu cheiro tão familiar...
Outra vez,
Sem se espantar.
Outra vez...
Outra vez...
Outra vez...
quinta-feira, 13 de novembro de 2014
Resenha do Filme: Germinal, adaptado da obra de Émile Zola.
RESENHA
Filme:
Germinal, adaptado da obra de Émile Zola.
OLIVEIRA, Taysen Caroline Modzinski
de, Curso de Letras, Universidade Estadual do Paraná de Paranavaí, Paraná,
Brasil.
O filme Germinal retrata a dura
realidade do século XIX aos proletariados que com a Revolução Industrial
viraram escravos das maquinas e da sobrevivência, e alimentavam os burgueses da
época. O filme Germinal produzido pela França em 1993 e foi baseado na obra de
mesmo nome de Émile Zola. O filme foi dirigido por Claude Berri e contém 160
minutos de duração e conta com um grande elenco, entre eles Gérard Depardieu
incorporado no personagem amoroso e valente Toussaint Maheu, Miou Miou como a
mãe defensora Maheude. O filme conta a história de um desempregado chamado
Étienne Lantier que chega a uma região carbonífera a procura de emprego,
Étienne vai a uma mina e consegue um emprego como mineiro, no primeiro dia faz
amizade com Toussaint e sua filha Catherine. Étienne conforme vê a situação de
extrema miséria que aqueles mineiros viviam, o dinheiro pago que mal dava para
comprar pão, decide liderar uma greve contra os patrões que eram os burgueses e
viviam em luxuoso conforto as custas do suor e das mortes dos proletariados das
minas. Porém a greve trouxe muita fome e morte, Étienne sofria pelas pressões dos
proletariados com as necessidades de pão que a greve gerou, de sua paixão
frustrada por Catherine(que estava apaixonada por Étienne também mas estava
morando com Chaval), e a morte de Toussaint que enfrentou o exercito e levou um
tiro pela afronta; ele cede a greve e vai trabalhar. No dia em que Étienne
volta ao trabalho acontece um grande desmoronamento e Étienne fica preso com alguns
outros empregados da mina e vão todos a procura de uma saída em uma antiga
mina, mas por conta de desmoronamentos menores durante o caminho, Étienne e Catherine
ficam presos e Chaval depois os encontra, Chaval cheio de cólera e frustrado tenta
ter relações amorosas com Catherine (eles haviam rompido antes do
desmoronamento), mas Étienne com ciúmes e querendo proteger a amada do estupro,
mata Chaval. Catherine e Étienne estavam quase sem oxigênio para respirarem mas
estavam felizes por finalmente estarem juntos, enquanto isso os trabalhadores
da mina que estavam tentando salvar os sobreviventes e então acontece uma
explosão pois o irmão de Catherine, Phillippe, desenrosca a lamparina e ocorre a
explosão decorrente do gás da mina e Philippe morre,durante dias os mineiros
escavam a procuram de sobreviventes quando finalmente encontram Catherine e
Étienne, Catherine morta de fome e Étienne a beira da morte mas vivo. No outro
dia, devido ao marido e os filhos mortos que sustentavam a casa e só lhe
restando uma única alternativa, Maheude vai trabalhar para manter seus outros
filhos e Étienne decide ir embora.
O
movimento literário Realismo surgiu devido ao desgaste do Romantismo, cansados
do subjetivismo, os novos autores buscavam nas descobertas cientificas um modo
para inspirarem-se a criarem um novo tipo de literatura, na teoria comparativa da
evolução de Charles Darwin, nas experiências que Pasteur observa e descobre os
organismos microscópicos, Lamark que estabelece as bases concretas para a
biologia, tudo isso gera aos novos autores ideias de que somente através da
observação e experiências que visem apenas na realidade, em o que eles podem
ver, o que é verdade, aplicar o conceito de observação e dedução dos fenômenos
ocorridos em suas histórias e conforme o meio, os personagens seriam
influenciados em seus destinos, é então nesse rumo que a literatura caminha. No
filme a situação de sofrimento dos proletariados é claramente uma alusão ao
Realismo, onde o filme decorre apenas da vida comum dessas pessoas, da
realidade, do que realmente acontecia com elas. Através da analise de suas
situações é que o telespectador observa essa realidade e dependendo o tipo de
comportamento e meio que essa personagem vive, o leitor pode deduzir qual será
seu destino. Em Germinal, Étienne é um revolucionário que oscila em seus
ideais, mas sempre é perseverante em situações boas ou ruins, ele representa no
filme e no livro a ideia de perseverança, na literatura Realista, cada
personagem representa um tipo de pessoa que pode existir no mundo real e mostra
o que sua personalidade pode causar, no caso de Étienne, sua perseverança
causou muita destruição pois o meio não lhe proporcionava sucesso em seus
ideais. Outra característica do Realismo é a critica social, no filme Germinal
fica a critica da exploração dos proletariados pelos burgueses e a luta
desarmada dos proletariados contra o exército que ironicamente defende a
burguesia da fúria dos proletariados. Há também a descrição do presente no
filme que se inspirou na obra que fora publicada em 1850, portanto o filme tem
que representar o contexto de época de acordo com o que era presente quando o
livro foi publicado.
Não
só Realista, o filme entra dentro de outra questão literária, o Naturalismo,
baseado também na teoria das evoluções de Charles Darwin, o Naturalismo na
literatura se manifesta através de que o meio influencia a característica
psicológica do personagem, essa característica psicológica em Germinal é da
sobrevivência, trabalhar para comer, portanto as personagens viviam para
trabalhar e o trabalho gerava seu pagamento, a comida; outra característica do Naturalismo
é o instinto que leva o personagem a agir da forma que age no romance, em
Germinal, o sexo era uma forma de aliviar as tensões, as pessoas faziam sexo
como animais em Germinal, alguns exemplos disso encontramos quando Chaval após
ter “pagado” a fita a Catherina, fica claro que suas intenções eram de ter
relações sexuais com Catherina, forçando-a a dar algo em troca do que ele
pagou(sexo), mesmo Catherina não querendo, ele a força; outro exemplo do filme
é quando Toussaint após um dia duro de trabalho enquanto tomava banho, força
sua esposa a fazer sexo com ele como forma de aliviar suas tensões. Embora
Étienne espere por Catherine, ele não demonstra seus instintos, ele é portanto
um elemento romântico do filme, tanto em esperar Catherine como por seus ideais
revolucionários.
O
filme é uma ferramenta interessante, pois nos leva a entender o contexto de
época, a luta dos trabalhadores, e como esse contexto esta presente mesmo que
de forma diferente, em nosso cotidiano, onde as pessoas de classes altas
exploram os trabalhadores que precisam do emprego para sobreviverem e a falta
de direitos que mesmo hoje no século XIX ainda existe, como a impossibilidade
de greve aos trabalhadores, onde o “burguês” ameaça o trabalhador com a
demissão ou a falta de pagamento por um direito que é seu. Infelizmente essa
realidade ainda é presente.
Referências:
Germinal (filme – 1993). Wikipédia, a
enciclopédia livre. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Germinal_(1993)
Acesso em: 03 jul. 2014.
BRAS, Luiz. Crítica: “Germinal”, de
Émile Zola, incita proletários contra a burguesia. Folha de São Paulo. Postado
em 20/04/2013 às 04h07min. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2013/04/1265381-critica-germinal-de-emile-zola-incita-proletarios-contra-a-burguesia.shtml
Acesso em: 03 jul. 2014.
CABRAL, Marina. O Naturalismo. Brasil
Escola. Disponível em: http://www.brasilescola.com/literatura/o-naturalismo.htm
Acesso em: 03 jul. 2014.
Acesso em: 03 jul. 2014.
BARBOSA, Zilda Ferreira. Apostila de
Literatura Portuguesa II - 4º série – Letras – 2014.
Resenha: Primo Basílio - Eça de Queirós.
Oi gente, também vou disponibilizar uma resenha que fiz do romance "Primo Basílio - Eça de Queirós", em breve em PDF. Espero que ajudem os alunos em geral, é uma resenha bem básica do romance.
RESENHA
Primo
Basílio – Eça de Queirós.
OLIVEIRA, Taysen Caroline
Modzinski, Curso de Letras, Universidade Estadual do Paraná – Campus Paranavaí,
Paraná, Brasil.
Primo
Basílio é uma romance realista que trata a depravação moral da burguesia
portuguesa da época em que foi escrito,1878, temas polêmicos como adultério,
perversão e intimidação causada pelo adultério são tratados no romance. O livro Primo Basílio foi designado como
opção de leitura para o seminário de leitura e análise, administrada pela professora XXXXXXX(não posso citar nomes aqui gente) na matéria de Literatura Portuguesa II, escrito
por Eça de Queirós, edição de 2008, 490 páginas, editora Best Bolso. No romance
realista de Eça de Queirós, narra a história de um casal feliz chamado Luísa e
Jorge, por conta de seu trabalho, Jorge viaja e deixa Luísa na companhia de
duas empregadas. E eis que Luísa fica sabendo da volta a Portugal de seu primo
Basílio Brito, os dois se encontram e começam a relembrarem o seu passado
amoroso de juventude e Luísa sem a companhia de Jorge sede os galanteios de
Basílio e eles iniciam um caso. Com o tempo a vizinhança começa a suspeitar das
visitas frequentes de Basílio e a empregada Juliana apenas observa para que
possa conseguir algo da patroa; por conta do falatório, Juliana e Basílio vão
ter seus encontros em outro lugar, e Luísa inventa um pretexto para despistar a
vizinhança e Juliana, mas um dia Juliana descobre as cartas com conteúdos sobre
a intimidade dos amantes e passa a ameaçar Luísa, Basílio temendo que ele se prejudicasse
inventa que precisa partir á Paris a negócios e deixa Luísa se entender com
Juliana. Luísa desesperada cede às exigências de Juliana e passa a fazer o
serviço doméstico e lhe dar roupas, lençóis de linho e um quarto melhor. Jorge
volta a casa e vê a situação, Luísa para se explicar ao marido, diz que Juliana
está muito mal de saúde e está apenas ajudando e sentindo pena, Jorge irado
manda Juliana embora, Luísa temendo a ira de Juliana vai atrás de um amigo e
conta o acontecido, este que se chama Sebastião lhe diz que irá assustar
Juliana e assim o faz, mas Juliana morre por conta do nervosismo e sua saúde
debilitada. Luísa se vê aliviada, mas então fica muito doente, uma carta de
Basílio chega e Jorge a lê e descobre a traição de Luísa e a trata com desprezo
e indiferença, Luísa melhora um pouco, no entanto acaba morrendo em seguida.
O romance está repleto de reflexões acerca da sociedade
portuguesa do final do século XIX, o adultério de Luísa com Basílio é visto
como algo escandaloso, mas quando no final do romance é citado que Jorge traia
Luísa e por isso adiava sua volta para casa, à forma como é narrada, dá a
entender que Jorge pode trair e Luísa não, o machismo presente na época é
forte, tanto é que Luísa morre, esse é o destino das adulteras, mas não dos
adúlteros que não devem se sentirem culpados. O amedrontamento de Luísa e como
ela cede às ameaças de Juliana pode ser observado como a fragilização da mulher
da época, a falta de conhecimentos e como a mulher deveria ser passiva e
ignorante, só o homem poderia ser inteligente e fugir da responsabilidade sem
ser culpado, essa é outra questão a ser analisada, segundo os preceitos atuais
e a ascensão dos direitos das mulheres, observa-se o conflito causado na
sociedade atual e a sociedade tradicionalista, embora ainda atualmente
sucedesse frequentemente a submissão da mulher e a opressão que ela sofre da
sociedade machista. Por conta dessa questão imposta no contexto da época, Luísa
não tem opções de contornar o problema e ser perdoada, o autor então mata sua
personagem, pois era a única opção que ela tinha em meio ao grupo social da época.
A renovação da linguagem e o universo mitopoético de Guimarães Rosa
Oi gente, hoje resolvi postar um trabalho que fiz para a matéria de Literatura Brasileira sobre Guimarães Rosa. Aos estudantes de Guimarães Rosa, espero que ajudem. :) Em breve o colocarei a disposição em PDF.
João Guimarães Rosa
João Guimarães Rosa nasceu em
27 de junho de 1908 em Cordisburgo, Minas Gerais. Desde cedo se interessou pelo
estudo, principalmente no estudo de línguas estrangeiras.
Iniciou-se
sozinho no estudo do francês. Um frade ensinou a ele o holandês e o ajudou a
seguir no estudo do francês. Após passar por alguns colégios, fixa-se em Belo
Horizonte, onde completa o curso secundário em uma escola de padres alemães.
Logo que ingressa, Guimarães Rosa começa o estudo de alemão. Ainda nessa
cidade, matricula-se na Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais,
em 1925. Nem tinha formado, quando em
1929, escreveu seus primeiros contos e deu início à sua carreira como
literário. Já a princípio, ganhou prêmio em dinheiro pelos tais contos, ao
participar de concurso oferecido pela revista “O Cruzeiro”. Nesse período, suas obras, apesar de premiadas, não
tinham a linguagem literária que representou um marco na literatura brasileira.
O texto de Guimarães Rosa
caracteriza-se pelo uso de inovações da linguagem, essas inovações da linguagem
são aclamadas pelas criações ou intervenções de vocábulos já existentes na
língua portuguesa, além da mistura entre língua popular e erudita, criando assim
a sensação de confusão por parte do leitor, o anacoluto.
Características de sua obra
Além das criações de palavras
(neologismos) podemos apontar outras características.
- Uso de aliterações e onomatopeias
no intuito de criar sonoridade
- Temas envolvendo destino, vida, morte, Deus.
- A língua falada no sertão está presente em sua obra (fruto de anotações e pesquisas lingüísticas).
- Temas envolvendo destino, vida, morte, Deus.
- A língua falada no sertão está presente em sua obra (fruto de anotações e pesquisas lingüísticas).
Guimarães Rosa utiliza termos que
não são mais usados, cria neologismos, faz empréstimos de palavras estrangeiras
e explora estruturas sintáticas para recriar e reinventar a língua portuguesa.
Além disso, Guimarães Rosa faz uso
do ritmo, aliterações, metáforas e imagens para criar uma prosa mais poética
ficando no limite entre a poesia e a prosa.
A obra de Guimarães Rosa
é extremamente inovadora e original. Havia o uso do neologismos em suas obras(a
arte de inventar palavras) que o autor utilizava em seu regionalismo,onde
descrevia o sertão mineiro representado principalmente pelos jagunços(bandos de
soldados,como os cangaceiros na Região Nordeste),saindo da linguagem
inteiramente cotidiana e do sertão ‘’superficial’’(as particularidades e
cotidiano de povo),para uma linguagem nutrida pela fusão da
erudição,modificando o regionalismo na literatura.
O regionalismo de Guimarães
Rosa pode ser classificado como universal, pois o sertão rosiano não é apenas
um simples sertão. O sertão rosiano é o próprio mundo dos personagens, não um
lugar que causa a miséria,a pobreza dos personagens como os de Graciliano
Ramos,e sim um lugar ideal para a reflexão psicológica dos personagens de Rosa
sobre o existencialismo da vida,sobre temas ambíguos que estão presentes em
todos os homens(como a existência do diabo,ou de Deus;). Ou seja, seus
personagens não serão enxergados apenas pelos seus costumes, e também pelos
seus conflitos internos e sentimentais. Com isso o sertão de Rosa será um universo
mítico e supersticioso, seus personagens terão crenças politeístas e serão
umbandistas e espíritas. A prosa se mistura com a poética através dos neologismos
e outros elementos da poética que Guimarães Rosa utilizou.
A Renovação da Linguagem
A renovação da linguagem na
obra de Guimarães Rosa vem para criar novas sensações, não apenas narrar o
fato, mas unindo a poesia, a prosa, a retórica, o informal e etc, e criando um
jogo de palavras que desperte o interesse do leitor para um novo estilo, um
estilo que Guimarães Rosa criou para dar vivacidade e dinamismo em sua
literatura. Rocha (2000) analisou por meio da gramática e o texto de Guimarães
Rosa o uso dessa nova linguagem, ele comenta que as regras gramaticais da nossa
língua bloqueiam alguns usos nos sufixos de vocábulos, por questão pragmática
como o uso de doleiro (sufixo “eiro”) e não o uso do sufixo “eiro” em iene, ou
por questão da já existência de outra palavra que substitua a nova criação.
Guimarães Rosa modifica os vocábulos já existentes na língua portuguesa para
dar ritmo, poesia e estilo. Sobre isso, Rocha diz:
Para tornar a sua língua mais
original e sedutora, Guimarães Rosa executa várias intervenções
morfo-cirúrgicas nas palavras que utiliza. Um dos artifícios mais instigantes e
revolucionários de que lança mão para a consecução desse objetivo é o
desbloqueio, como procuramos demonstrar. Desse modo, as palavras da prosa
rosiana recebem um toque mágico e passam a funcionar como guizos que tilintam
insistentemente, com o intuito de carrear a atenção do leitor para o espaço
específico de sua criação linguística. (ROCHA, 2000, p. 369).
Podemos comparar no conto
“Antiperipléia” de Tutaméia (1967) o uso da linguagem popular, erudita, a
criação desses novos vocábulos e a poesia em prosa:
Eu, bêbedo e franzino, ananho,
tenho de emendar a doideira e cegueira de todos?
Deixassem – e eu deduzia e
concertava. Mas ninguém espera a esperança. Vão ao estopim no fim, às tantas
desastrou, os outros agravam de especular e me afrontar, que me deparo, de
fecho para princípio, sem rio nem ponte.
Dia que deu má noite. Êle se
errou, beira o precipício, caindo e breu que falecendo. Não pode ter sido só
azares, cafifa? De ir solitário bravear, ciumado, boi em bufo, resvalou...
(ROSA, 1967, p. 15)
O termo “ananho” não é
conhecido da língua portuguesa, mas devido ao contexto de que o narrador
personagem se autocaracteriza, ele é “franzino”, franzino é um adjetivo que
pode se associar a outro adjetivo, tal ele é “anão”, a palavra “ananho” pode
ser uma modificação que Guimarães Rosa fez da palavra “anão” para dar um novo
ar de movimento a sua narrativa. O uso do anacoluto em “caindo e breu que
falecendo” simplesmente poderia ser usado na narrativa comum e de vocabulário
informal “caindo na escuridão e morrendo”, pode-se relacionar “breu” a
“falecendo”, já que a vida representa luz e a morte escuridão, tanto que essa
antecipação da morte ocorre em “Dia que deu má noite”, ou, “uma vida que teve
uma morte trágica”; o uso do anacoluto dá um sentido poético ao conto, e nesse
caso, afirma de forma concreta através da narração do fato sobre a antecipação
que a frase anterior disse em forma de símbolos, essa simbologia também dá
poesia ao texto.
A criação do estilo de
Guimarães Rosa é tão peculiar que para Antônio Cândido, Grande Sertão: Veredas contém:
...eu queria dizer que Grande sertão: veredas é desses livros
inesgotáveis, que podem ser lidos como se fossem uma porção de coisas: romance
de aventuras, análise da paixão amorosa, retrato original do sertão brasileiro,
invenção de um espaço quase mítico, chamada à realidade, fuga da realidade,
reflexão sobre o destino do homem, expressão de angústia metafísica, movimento
imponderável de carretilha entre real e fantástico e assim por diante.
Essas características também podem ser encontradas nas demais obras de
Guimarães Rosa, não só em Grande Sertão: Veredas.
O
universo mito poético em Guimarães Rosa
Em muitas obras de Guimarães
Rosa encontra-se a mistura de mito na estrutura do romance e a poesia, como
dito anteriormente. O mito na obra em geral rosiano vem como marca de seu
estilo, além do estilo expresso através da palavra, a construção do enredo é
também marca de seu estilo, ele se utiliza do mito para agregar estilo a sua
narrativa. Segundo Reinaldo (2000), Guimarães Rosa utiliza o mito através da
canção em Grande Sertão: Veredas, onde Siruiz atua como oráculo no começo do
romance, toda a passagem em que Siruiz aparece, ocorre sugestões que se
concretizam posteriormente, essas sugestões são captadas por Riobaldo em seu
subconsciente, tanto que depois de ouvir Siruiz cantar, Riobaldo decide fugir da
casa de Selorico Mendes e une-se aos jagunços e apaixona-se por Diadorim, seu
subconsciente capta a mensagem de oráculo que Siruiz faz e decide seguir a
previsão, essa busca pela concretização do destino é uma busca que o ser faz
para se auto descobrir também. Siruiz como oráculo, utiliza da palavra cantada
para dizer o destino de Riobaldo, a canção é caracterizada pela musicalidade da
poesia e eis que surge a canção. O mito vem por conta de obras já conhecidas,
onde os oráculos utilizavam de metáfora ou canção para sugerir o que sucederia
ao herói, essas sugestões sempre eram vagas e o herói deveria intepretá-las,
não apenas para conhecer seu futuro, mas para mergulhar dentro de si e se
interpretar, só através da experiência o herói consegue também conhecer a si
próprio.
Já no conto Nada e a nossa condição (1962), Faleiros
(2007) diz que o mito pode ser visto como a comparação do personagem Tio Man’Antônio com a fênix, onde a
personagem desenvolve sua riqueza através do trabalho em sua propriedade rural
e depois se desfaz do seu ganho através da doação da propriedade aos seus
empregados, isso pode-se chamar de transcendência, onde o ser abdica de tudo
para poder crescer espiritualmente, alcançar um novo patamar de existência, a
vida após a morte; a casa em chamas no final, representa a morte de Tio
Man’Antônio e sua transcendência de largar seu ultimo bem terreno e renascer no
céu. A poética fica por conta do estilo de Guimarães Rosa em sua composição
vocabular no conto, aliado as palavras sugestivas dentro da narrativa no mito
da fênix.
Referências:
ROCHA, Luiz Carlos de Assis. Guimarães Rosa: Criação lexical, bloqueio e
desbloqueio. Veredas de Rosa – Seminário Internacional Guimarães Rosa.
Organização: Lélia Parreira Duarte ET AL. Belo Horizonte: PUC Minas, CESPUC, 2000,
p. 364-370.
FALEIROS, Monica de Oliveira. A narrativa poética de Guimarães Rosa: Uma
leitura de “Nada e a nossa condição”. Itinerários, Araraquara, n.25, 2007,
p. 159-169.
ROSA, João Guimarães. Antiperipléia. Tutaméia – Terceiras
Estórias. Rio de Janeiro: editora José Olympio, 1967, p. 13-16.
GOMES, Cristiana. Guimarães Rosa. InfoEscola – Navegando
e aprendendo. Disponível em:
http://www.infoescola.com/literatura/guimaraes-rosa/
Acesso em: 02 nov. 2014.
João Guimarães Rosa – Biografia. Academia Brasileira de Letras. Disponível em: http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=681&sid=96
Acesso em: 01 nov. 2014.
João Guimarães Rosa – Bibliografia. Academia Brasileira de Letras. Disponível em: http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=683&sid=96
Acesso em: 01 nov. 2014.
domingo, 9 de novembro de 2014
O tempo e a morte.
Permaneça esses olhos de fúrias
Esses olhos de medo
Esses olhos de dor
e solidão
Permaneça esses olhos que sempre latejam
De frieza
De fúria
E de desamor
Esses olhos que morrem
Que perdem o brilho,
como o coração.
Esses olhos que possuem o coração ferido
O coração envenenado
O coração morto.
Olhos negros,
eles o são!
Olhos tão mortos,
que atraem ainda falsos amores,
corações que se acham vivos,
mas não o estão!
Tempo,
você está matando tudo.
E eu não quero,
que nada morra,
Nem a beleza.
Nem a vontade.
Nem o coração.
Mas tudo o que posso manter,
são os olhos mortos.
Mortos de fogo,
mortos de dor,
mortos vivos,
vivos mortos.
Tudo morto,
e o silêncio -
desperta-me.
Esses olhos de medo
Esses olhos de dor
e solidão
Permaneça esses olhos que sempre latejam
De frieza
De fúria
E de desamor
Esses olhos que morrem
Que perdem o brilho,
como o coração.
Esses olhos que possuem o coração ferido
O coração envenenado
O coração morto.
Olhos negros,
eles o são!
Olhos tão mortos,
que atraem ainda falsos amores,
corações que se acham vivos,
mas não o estão!
Tempo,
você está matando tudo.
E eu não quero,
que nada morra,
Nem a beleza.
Nem a vontade.
Nem o coração.
Mas tudo o que posso manter,
são os olhos mortos.
Mortos de fogo,
mortos de dor,
mortos vivos,
vivos mortos.
Tudo morto,
e o silêncio -
desperta-me.
sexta-feira, 7 de novembro de 2014
Diferenças
Aprendi que o amor grita
Sendo criança ou adulto.
Grita porque os corações são diferentes.
Um rosa, outro cinza, outro verde, outro turquesa.
Brigam porque são diferentes.
E mesmo que briguem,
Os corações se amam,
E não se deixam de se amarem por pensarem diferente,
Eles se olham, e lá está o amor novamente.
Intocável pelo ódio.
sábado, 1 de novembro de 2014
Serpente
A cada pele deixada para trás
Uma morte
E uma nova vida.
Na morte há vida
A vida de uma nova transcendência.
Uma nova vida me aguarda em cada morte.
Assim a serpente
Renasce.
Em suas novas forças
Para matar.
Em cada presa,
Ela ganha mais vida.
O veneno em suas presas,
É o novo passaporte,
Para uma nova existência.
A morte da criança,
A morte do amor,
A morte da bondade,
A morte do coração.
O nascimento do adulto,
O nascimento do ódio,
O nascimento da discórdia,
O nascimento do nada.
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