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domingo, 30 de novembro de 2014

Silêncio

Uma vez imaginei o silêncio,
nesse mundo moderno
cheio de barulhos
o tempo todo,
carros passando pela avenida,
musicas sendo tocadas altas
e a luz,
insistidamente,
cegam meus olhos.

Não posso dormir,
não posso fugir.
Não fisicamente,
mas as vezes devaneio.
O silêncio...

Parece com a morte,
Mas assemelha-se mais com a vida.
É tão pura...

Assim como o vento,
sua eterna amiga e confidente,
ela faz a minha alma sentir-se plena,
o nada,
o tudo.

Que eu preciso ouvir,
que eu preciso sentir,
que eu preciso ver,
tudo ao mesmo tempo.
E a felicidade, é o resultado dessa química poderosa,
a química natural.

O preço a ser pago para obtê-la é caro,
mesmo que dure brevemente,
é a melhor sensação do mundo,
sua eternidade está em sua brevidade,
que lateja em minhas mãos.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Esperança

Esperando o que nunca virá
Mas o coração insistidamente espera
Espera...

Numa crescente espera,
O que alimenta a expectativa,
Sempre,
É o coração,
Ele espera, espera, espera...
E fantasia o reencontro.

Mesmo que nunca ocorra
Ò ele o deseja!
Ó ele o faz acontecer!

Em seu coração!

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Sangue

O sangue
Derramado sob nossas peles
O sangue
Que nem mesmo lavando inúmeras vezes, sai de nossas carcaças,
O sangue que permanece sob a alma.

A morte, está sob nossas mãos.
Nossos lábios,
Nossos corações.
Manchados.

Consegue ver?
Não... Pois você não consegue nem abrir seus olhos,
Quanto mais ver o sangue,
Quanto mais que ele pertence a si próprio.

Consegue sentir?
As facadas que você dá em si mesmo?
Não... Pois você acredita na ilusão de que os outros são os culpados.
Não consegue enxergar as facadas que você dá em si próprio.

A morte vem...
Com seu cheiro tão familiar...
Outra vez,
Sem se espantar.

Outra vez...
Outra vez...

Outra vez...

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Resenha do Filme: Germinal, adaptado da obra de Émile Zola.

RESENHA

Filme: Germinal, adaptado da obra de Émile Zola.

OLIVEIRA, Taysen Caroline Modzinski de, Curso de Letras, Universidade Estadual do Paraná de Paranavaí, Paraná, Brasil.

O filme Germinal retrata a dura realidade do século XIX aos proletariados que com a Revolução Industrial viraram escravos das maquinas e da sobrevivência, e alimentavam os burgueses da época. O filme Germinal produzido pela França em 1993 e foi baseado na obra de mesmo nome de Émile Zola. O filme foi dirigido por Claude Berri e contém 160 minutos de duração e conta com um grande elenco, entre eles Gérard Depardieu incorporado no personagem amoroso e valente Toussaint Maheu, Miou Miou como a mãe defensora Maheude. O filme conta a história de um desempregado chamado Étienne Lantier que chega a uma região carbonífera a procura de emprego, Étienne vai a uma mina e consegue um emprego como mineiro, no primeiro dia faz amizade com Toussaint e sua filha Catherine. Étienne conforme vê a situação de extrema miséria que aqueles mineiros viviam, o dinheiro pago que mal dava para comprar pão, decide liderar uma greve contra os patrões que eram os burgueses e viviam em luxuoso conforto as custas do suor e das mortes dos proletariados das minas. Porém a greve trouxe muita fome e morte, Étienne sofria pelas pressões dos proletariados com as necessidades de pão que a greve gerou, de sua paixão frustrada por Catherine(que estava apaixonada por Étienne também mas estava morando com Chaval), e a morte de Toussaint que enfrentou o exercito e levou um tiro pela afronta; ele cede a greve e vai trabalhar. No dia em que Étienne volta ao trabalho acontece um grande desmoronamento e Étienne fica preso com alguns outros empregados da mina e vão todos a procura de uma saída em uma antiga mina, mas por conta de desmoronamentos menores durante o caminho, Étienne e Catherine ficam presos e Chaval depois os encontra, Chaval cheio de cólera e frustrado tenta ter relações amorosas com Catherine (eles haviam rompido antes do desmoronamento), mas Étienne com ciúmes e querendo proteger a amada do estupro, mata Chaval. Catherine e Étienne estavam quase sem oxigênio para respirarem mas estavam felizes por finalmente estarem juntos, enquanto isso os trabalhadores da mina que estavam tentando salvar os sobreviventes e então acontece uma explosão pois o irmão de Catherine, Phillippe, desenrosca a lamparina e ocorre a explosão decorrente do gás da mina e Philippe morre,durante dias os mineiros escavam a procuram de sobreviventes quando finalmente encontram Catherine e Étienne, Catherine morta de fome e Étienne a beira da morte mas vivo. No outro dia, devido ao marido e os filhos mortos que sustentavam a casa e só lhe restando uma única alternativa, Maheude vai trabalhar para manter seus outros filhos e Étienne decide ir embora.

            O movimento literário Realismo surgiu devido ao desgaste do Romantismo, cansados do subjetivismo, os novos autores buscavam nas descobertas cientificas um modo para inspirarem-se a criarem um novo tipo de literatura, na teoria comparativa da evolução de Charles Darwin, nas experiências que Pasteur observa e descobre os organismos microscópicos, Lamark que estabelece as bases concretas para a biologia, tudo isso gera aos novos autores ideias de que somente através da observação e experiências que visem apenas na realidade, em o que eles podem ver, o que é verdade, aplicar o conceito de observação e dedução dos fenômenos ocorridos em suas histórias e conforme o meio, os personagens seriam influenciados em seus destinos, é então nesse rumo que a literatura caminha. No filme a situação de sofrimento dos proletariados é claramente uma alusão ao Realismo, onde o filme decorre apenas da vida comum dessas pessoas, da realidade, do que realmente acontecia com elas. Através da analise de suas situações é que o telespectador observa essa realidade e dependendo o tipo de comportamento e meio que essa personagem vive, o leitor pode deduzir qual será seu destino. Em Germinal, Étienne é um revolucionário que oscila em seus ideais, mas sempre é perseverante em situações boas ou ruins, ele representa no filme e no livro a ideia de perseverança, na literatura Realista, cada personagem representa um tipo de pessoa que pode existir no mundo real e mostra o que sua personalidade pode causar, no caso de Étienne, sua perseverança causou muita destruição pois o meio não lhe proporcionava sucesso em seus ideais. Outra característica do Realismo é a critica social, no filme Germinal fica a critica da exploração dos proletariados pelos burgueses e a luta desarmada dos proletariados contra o exército que ironicamente defende a burguesia da fúria dos proletariados. Há também a descrição do presente no filme que se inspirou na obra que fora publicada em 1850, portanto o filme tem que representar o contexto de época de acordo com o que era presente quando o livro foi publicado.

            Não só Realista, o filme entra dentro de outra questão literária, o Naturalismo, baseado também na teoria das evoluções de Charles Darwin, o Naturalismo na literatura se manifesta através de que o meio influencia a característica psicológica do personagem, essa característica psicológica em Germinal é da sobrevivência, trabalhar para comer, portanto as personagens viviam para trabalhar e o trabalho gerava seu pagamento, a comida; outra característica do Naturalismo é o instinto que leva o personagem a agir da forma que age no romance, em Germinal, o sexo era uma forma de aliviar as tensões, as pessoas faziam sexo como animais em Germinal, alguns exemplos disso encontramos quando Chaval após ter “pagado” a fita a Catherina, fica claro que suas intenções eram de ter relações sexuais com Catherina, forçando-a a dar algo em troca do que ele pagou(sexo), mesmo Catherina não querendo, ele a força; outro exemplo do filme é quando Toussaint após um dia duro de trabalho enquanto tomava banho, força sua esposa a fazer sexo com ele como forma de aliviar suas tensões. Embora Étienne espere por Catherine, ele não demonstra seus instintos, ele é portanto um elemento romântico do filme, tanto em esperar Catherine como por seus ideais revolucionários.

            O filme é uma ferramenta interessante, pois nos leva a entender o contexto de época, a luta dos trabalhadores, e como esse contexto esta presente mesmo que de forma diferente, em nosso cotidiano, onde as pessoas de classes altas exploram os trabalhadores que precisam do emprego para sobreviverem e a falta de direitos que mesmo hoje no século XIX ainda existe, como a impossibilidade de greve aos trabalhadores, onde o “burguês” ameaça o trabalhador com a demissão ou a falta de pagamento por um direito que é seu. Infelizmente essa realidade ainda é presente.






Referências:


Germinal (filme – 1993). Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Germinal_(1993)
Acesso em: 03 jul. 2014.

BRAS, Luiz. Crítica: “Germinal”, de Émile Zola, incita proletários contra a burguesia. Folha de São Paulo. Postado em 20/04/2013 às 04h07min. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2013/04/1265381-critica-germinal-de-emile-zola-incita-proletarios-contra-a-burguesia.shtml
Acesso em: 03 jul. 2014.

CABRAL, Marina. O Naturalismo. Brasil Escola. Disponível em: http://www.brasilescola.com/literatura/o-naturalismo.htm
Acesso em: 03 jul. 2014.

Germinal. Youtube. Canal CGT Catalunya. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=XFs0LCnW-lM
Acesso em: 03 jul. 2014.


BARBOSA, Zilda Ferreira. Apostila de Literatura Portuguesa II - 4º série – Letras – 2014.

Resenha: Primo Basílio - Eça de Queirós.

Oi gente, também vou disponibilizar uma resenha que fiz do romance "Primo Basílio - Eça de Queirós", em breve em PDF. Espero que ajudem os alunos em geral, é uma resenha bem básica do romance.

RESENHA

Primo Basílio – Eça de Queirós.

OLIVEIRA, Taysen Caroline Modzinski, Curso de Letras, Universidade Estadual do Paraná – Campus Paranavaí, Paraná, Brasil.

Primo Basílio é uma romance realista que trata a depravação moral da burguesia portuguesa da época em que foi escrito,1878, temas polêmicos como adultério, perversão e intimidação causada pelo adultério são tratados no romance.  O livro Primo Basílio foi designado como opção de leitura para o seminário de leitura e análise, administrada pela professora XXXXXXX(não posso citar nomes aqui gente) na matéria de Literatura Portuguesa II, escrito por Eça de Queirós, edição de 2008, 490 páginas, editora Best Bolso. No romance realista de Eça de Queirós, narra a história de um casal feliz chamado Luísa e Jorge, por conta de seu trabalho, Jorge viaja e deixa Luísa na companhia de duas empregadas. E eis que Luísa fica sabendo da volta a Portugal de seu primo Basílio Brito, os dois se encontram e começam a relembrarem o seu passado amoroso de juventude e Luísa sem a companhia de Jorge sede os galanteios de Basílio e eles iniciam um caso. Com o tempo a vizinhança começa a suspeitar das visitas frequentes de Basílio e a empregada Juliana apenas observa para que possa conseguir algo da patroa; por conta do falatório, Juliana e Basílio vão ter seus encontros em outro lugar, e Luísa inventa um pretexto para despistar a vizinhança e Juliana, mas um dia Juliana descobre as cartas com conteúdos sobre a intimidade dos amantes e passa a ameaçar Luísa, Basílio temendo que ele se prejudicasse inventa que precisa partir á Paris a negócios e deixa Luísa se entender com Juliana. Luísa desesperada cede às exigências de Juliana e passa a fazer o serviço doméstico e lhe dar roupas, lençóis de linho e um quarto melhor. Jorge volta a casa e vê a situação, Luísa para se explicar ao marido, diz que Juliana está muito mal de saúde e está apenas ajudando e sentindo pena, Jorge irado manda Juliana embora, Luísa temendo a ira de Juliana vai atrás de um amigo e conta o acontecido, este que se chama Sebastião lhe diz que irá assustar Juliana e assim o faz, mas Juliana morre por conta do nervosismo e sua saúde debilitada. Luísa se vê aliviada, mas então fica muito doente, uma carta de Basílio chega e Jorge a lê e descobre a traição de Luísa e a trata com desprezo e indiferença, Luísa melhora um pouco, no entanto acaba morrendo em seguida.

            O romance está repleto de reflexões acerca da sociedade portuguesa do final do século XIX, o adultério de Luísa com Basílio é visto como algo escandaloso, mas quando no final do romance é citado que Jorge traia Luísa e por isso adiava sua volta para casa, à forma como é narrada, dá a entender que Jorge pode trair e Luísa não, o machismo presente na época é forte, tanto é que Luísa morre, esse é o destino das adulteras, mas não dos adúlteros que não devem se sentirem culpados. O amedrontamento de Luísa e como ela cede às ameaças de Juliana pode ser observado como a fragilização da mulher da época, a falta de conhecimentos e como a mulher deveria ser passiva e ignorante, só o homem poderia ser inteligente e fugir da responsabilidade sem ser culpado, essa é outra questão a ser analisada, segundo os preceitos atuais e a ascensão dos direitos das mulheres, observa-se o conflito causado na sociedade atual e a sociedade tradicionalista, embora ainda atualmente sucedesse frequentemente a submissão da mulher e a opressão que ela sofre da sociedade machista. Por conta dessa questão imposta no contexto da época, Luísa não tem opções de contornar o problema e ser perdoada, o autor então mata sua personagem, pois era a única opção que ela tinha em meio ao grupo social da época.

A renovação da linguagem e o universo mitopoético de Guimarães Rosa

Oi gente, hoje resolvi postar um trabalho que fiz para a matéria de Literatura Brasileira sobre Guimarães Rosa. Aos estudantes de Guimarães Rosa, espero que ajudem. :) Em breve o colocarei a disposição em PDF.


João Guimarães Rosa
João Guimarães Rosa nasceu em 27 de junho de 1908 em Cordisburgo, Minas Gerais. Desde cedo se interessou pelo estudo, principalmente no estudo de línguas estrangeiras.
Iniciou-se sozinho no estudo do francês. Um frade ensinou a ele o holandês e o ajudou a seguir no estudo do francês. Após passar por alguns colégios, fixa-se em Belo Horizonte, onde completa o curso secundário em uma escola de padres alemães. Logo que ingressa, Guimarães Rosa começa o estudo de alemão. Ainda nessa cidade, matricula-se na Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais, em 1925. Nem tinha formado, quando em 1929, escreveu seus primeiros contos e deu início à sua carreira como literário. Já a princípio, ganhou prêmio em dinheiro pelos tais contos, ao participar de concurso oferecido pela revista “O Cruzeiro”. Nesse período, suas obras, apesar de premiadas, não tinham a linguagem literária que representou um marco na literatura brasileira.
O texto de Guimarães Rosa caracteriza-se pelo uso de inovações da linguagem, essas inovações da linguagem são aclamadas pelas criações ou intervenções de vocábulos já existentes na língua portuguesa, além da mistura entre língua popular e erudita, criando assim a sensação de confusão por parte do leitor, o anacoluto.

Características de sua obra
Além das criações de palavras (neologismos) podemos apontar outras características.
- Uso de aliterações e onomatopeias  no intuito de criar sonoridade
- Temas envolvendo destino, vida, morte, Deus.
- A língua falada no sertão está presente em sua obra (fruto de anotações e pesquisas lingüísticas).
Guimarães Rosa utiliza termos que não são mais usados, cria neologismos, faz empréstimos de palavras estrangeiras e explora estruturas sintáticas para recriar e reinventar a língua portuguesa.
Além disso, Guimarães Rosa faz uso do ritmo, aliterações, metáforas e imagens para criar uma prosa mais poética ficando no limite entre a poesia e a prosa.
A obra de Guimarães Rosa é extremamente inovadora e original. Havia o uso do neologismos em suas obras(a arte de inventar palavras) que o autor utilizava em seu regionalismo,onde descrevia o sertão mineiro representado principalmente pelos jagunços(bandos de soldados,como os cangaceiros na Região Nordeste),saindo da linguagem inteiramente cotidiana e do sertão ‘’superficial’’(as particularidades e cotidiano de povo),para uma linguagem nutrida pela fusão da erudição,modificando o regionalismo na literatura.
O regionalismo de Guimarães Rosa pode ser classificado como universal, pois o sertão rosiano não é apenas um simples sertão. O sertão rosiano é o próprio mundo dos personagens, não um lugar que causa a miséria,a pobreza dos personagens como os de Graciliano Ramos,e sim um lugar ideal para a reflexão psicológica dos personagens de Rosa sobre o existencialismo da vida,sobre temas ambíguos que estão presentes em todos os homens(como a existência do diabo,ou de Deus;). Ou seja, seus personagens não serão enxergados apenas pelos seus costumes, e também pelos seus conflitos internos e sentimentais. Com isso o sertão de Rosa será um universo mítico e supersticioso, seus personagens terão crenças politeístas e serão umbandistas e espíritas. A prosa se mistura com a poética através dos neologismos e outros elementos da poética que Guimarães Rosa utilizou.

A Renovação da Linguagem
A renovação da linguagem na obra de Guimarães Rosa vem para criar novas sensações, não apenas narrar o fato, mas unindo a poesia, a prosa, a retórica, o informal e etc, e criando um jogo de palavras que desperte o interesse do leitor para um novo estilo, um estilo que Guimarães Rosa criou para dar vivacidade e dinamismo em sua literatura. Rocha (2000) analisou por meio da gramática e o texto de Guimarães Rosa o uso dessa nova linguagem, ele comenta que as regras gramaticais da nossa língua bloqueiam alguns usos nos sufixos de vocábulos, por questão pragmática como o uso de doleiro (sufixo “eiro”) e não o uso do sufixo “eiro” em iene, ou por questão da já existência de outra palavra que substitua a nova criação. Guimarães Rosa modifica os vocábulos já existentes na língua portuguesa para dar ritmo, poesia e estilo. Sobre isso, Rocha diz:
Para tornar a sua língua mais original e sedutora, Guimarães Rosa executa várias intervenções morfo-cirúrgicas nas palavras que utiliza. Um dos artifícios mais instigantes e revolucionários de que lança mão para a consecução desse objetivo é o desbloqueio, como procuramos demonstrar. Desse modo, as palavras da prosa rosiana recebem um toque mágico e passam a funcionar como guizos que tilintam insistentemente, com o intuito de carrear a atenção do leitor para o espaço específico de sua criação linguística. (ROCHA, 2000, p. 369).

Podemos comparar no conto “Antiperipléia” de Tutaméia (1967) o uso da linguagem popular, erudita, a criação desses novos vocábulos e a poesia em prosa:
Eu, bêbedo e franzino, ananho, tenho de emendar a doideira e cegueira de todos?
Deixassem – e eu deduzia e concertava. Mas ninguém espera a esperança. Vão ao estopim no fim, às tantas desastrou, os outros agravam de especular e me afrontar, que me deparo, de fecho para princípio, sem rio nem ponte.
Dia que deu má noite. Êle se errou, beira o precipício, caindo e breu que falecendo. Não pode ter sido só azares, cafifa? De ir solitário bravear, ciumado, boi em bufo, resvalou... (ROSA, 1967, p. 15)
O termo “ananho” não é conhecido da língua portuguesa, mas devido ao contexto de que o narrador personagem se autocaracteriza, ele é “franzino”, franzino é um adjetivo que pode se associar a outro adjetivo, tal ele é “anão”, a palavra “ananho” pode ser uma modificação que Guimarães Rosa fez da palavra “anão” para dar um novo ar de movimento a sua narrativa. O uso do anacoluto em “caindo e breu que falecendo” simplesmente poderia ser usado na narrativa comum e de vocabulário informal “caindo na escuridão e morrendo”, pode-se relacionar “breu” a “falecendo”, já que a vida representa luz e a morte escuridão, tanto que essa antecipação da morte ocorre em “Dia que deu má noite”, ou, “uma vida que teve uma morte trágica”; o uso do anacoluto dá um sentido poético ao conto, e nesse caso, afirma de forma concreta através da narração do fato sobre a antecipação que a frase anterior disse em forma de símbolos, essa simbologia também dá poesia ao texto.

A criação do estilo de Guimarães Rosa é tão peculiar que para Antônio Cândido, Grande Sertão: Veredas contém:
...eu queria dizer que Grande sertão: veredas é desses livros inesgotáveis, que podem ser lidos como se fossem uma porção de coisas: romance de aventuras, análise da paixão amorosa, retrato original do sertão brasileiro, invenção de um espaço quase mítico, chamada à realidade, fuga da realidade, reflexão sobre o destino do homem, expressão de angústia metafísica, movimento imponderável de carretilha entre real e fantástico e assim por diante.
Essas características também podem ser encontradas nas demais obras de Guimarães Rosa, não só em Grande Sertão: Veredas.

O universo mito poético em Guimarães Rosa
Em muitas obras de Guimarães Rosa encontra-se a mistura de mito na estrutura do romance e a poesia, como dito anteriormente. O mito na obra em geral rosiano vem como marca de seu estilo, além do estilo expresso através da palavra, a construção do enredo é também marca de seu estilo, ele se utiliza do mito para agregar estilo a sua narrativa. Segundo Reinaldo (2000), Guimarães Rosa utiliza o mito através da canção em Grande Sertão: Veredas, onde Siruiz atua como oráculo no começo do romance, toda a passagem em que Siruiz aparece, ocorre sugestões que se concretizam posteriormente, essas sugestões são captadas por Riobaldo em seu subconsciente, tanto que depois de ouvir Siruiz cantar, Riobaldo decide fugir da casa de Selorico Mendes e une-se aos jagunços e apaixona-se por Diadorim, seu subconsciente capta a mensagem de oráculo que Siruiz faz e decide seguir a previsão, essa busca pela concretização do destino é uma busca que o ser faz para se auto descobrir também. Siruiz como oráculo, utiliza da palavra cantada para dizer o destino de Riobaldo, a canção é caracterizada pela musicalidade da poesia e eis que surge a canção. O mito vem por conta de obras já conhecidas, onde os oráculos utilizavam de metáfora ou canção para sugerir o que sucederia ao herói, essas sugestões sempre eram vagas e o herói deveria intepretá-las, não apenas para conhecer seu futuro, mas para mergulhar dentro de si e se interpretar, só através da experiência o herói consegue também conhecer a si próprio.

Já no conto Nada e a nossa condição (1962), Faleiros (2007) diz que o mito pode ser visto como a comparação do personagem  Tio Man’Antônio com a fênix, onde a personagem desenvolve sua riqueza através do trabalho em sua propriedade rural e depois se desfaz do seu ganho através da doação da propriedade aos seus empregados, isso pode-se chamar de transcendência, onde o ser abdica de tudo para poder crescer espiritualmente, alcançar um novo patamar de existência, a vida após a morte; a casa em chamas no final, representa a morte de Tio Man’Antônio e sua transcendência de largar seu ultimo bem terreno e renascer no céu. A poética fica por conta do estilo de Guimarães Rosa em sua composição vocabular no conto, aliado as palavras sugestivas dentro da narrativa no mito da fênix.

Referências:
ROCHA, Luiz Carlos de Assis. Guimarães Rosa: Criação lexical, bloqueio e desbloqueio. Veredas de Rosa – Seminário Internacional Guimarães Rosa. Organização: Lélia Parreira Duarte ET AL. Belo Horizonte: PUC Minas, CESPUC, 2000, p. 364-370.

FALEIROS, Monica de Oliveira. A narrativa poética de Guimarães Rosa: Uma leitura de “Nada e a nossa condição”. Itinerários, Araraquara, n.25, 2007, p. 159-169.

ROSA, João Guimarães. Antiperipléia. Tutaméia – Terceiras Estórias. Rio de Janeiro: editora José Olympio, 1967, p. 13-16.

GOMES, Cristiana. Guimarães Rosa. InfoEscola – Navegando e aprendendo. Disponível em: http://www.infoescola.com/literatura/guimaraes-rosa/
Acesso em: 02 nov. 2014.

João Guimarães Rosa – Biografia. Academia Brasileira de Letras. Disponível em: http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=681&sid=96
Acesso em: 01 nov. 2014.

João Guimarães Rosa – Bibliografia. Academia Brasileira de Letras. Disponível em: http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=683&sid=96


Acesso em: 01 nov. 2014.

domingo, 9 de novembro de 2014

O tempo e a morte.

Permaneça esses olhos de fúrias
Esses olhos de medo
Esses olhos de dor
e solidão

Permaneça esses olhos que sempre latejam
De frieza
De fúria
E de desamor

Esses olhos que morrem
Que perdem o brilho,
como o coração.
Esses olhos que possuem o coração ferido
O coração envenenado
O coração morto.

Olhos negros,
eles o são!
Olhos tão mortos,
que  atraem ainda falsos amores,
corações que se acham vivos,
mas não o estão!

Tempo,
você está matando tudo.
E eu não quero,
que nada morra,
Nem a beleza.
Nem a vontade.
Nem o coração.

Mas tudo o que posso manter,
são os olhos mortos.
Mortos de fogo,
mortos de dor,
mortos vivos,
vivos mortos.

Tudo morto,
e o silêncio -
desperta-me.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Diferenças

Aprendi que o amor grita
Sendo criança ou adulto.
Grita porque os corações são diferentes.
Um rosa, outro cinza, outro verde, outro turquesa.
Brigam porque são diferentes.
E mesmo que briguem, 
Os corações se amam,
E não se deixam de se amarem por pensarem diferente,
Eles se olham, e lá está o amor novamente.
Intocável pelo ódio.

sábado, 1 de novembro de 2014

Serpente

A cada pele deixada para trás
Uma morte
E uma nova vida.

Na morte há vida
A vida de uma nova transcendência.
Uma nova vida me aguarda em cada morte.
Assim a serpente
Renasce.
Em suas novas forças 
Para matar.

Em cada presa,
Ela ganha mais vida.

O veneno em suas presas,
É o novo passaporte,
Para uma nova existência.

A morte da criança,
A morte do amor,
A morte da bondade,
A morte do coração.

O nascimento do adulto,
O nascimento do ódio,
O nascimento da discórdia,
O nascimento do nada.