Ola! Faz muito, muito tempo que não posto nada, mas enfim, hoje postarei um dos meus contos. Com certeza esse é meu conto predileto, ele é na verdade sobre eu mesma, meus sentimentos de vazio, solidão e silêncio.
Sopro
Gélido
Elliot
Anked
Talvez eu estivesse morta e não sabia, e eu era um
sopro gélido, mas agora não sou mais um sopro gélido, mas gostaria de ser, mas
não me deixam, me calaram, eu grito, mas ninguém quer escutar, eu gritei
durante todos os anos de minha infância e agora meu irmão se calou, trocamos de
lugar irmãozinho? Ele joga na minha cara que sou solitária, sou até hoje, eu
criei a barreira, porque quando não havia barreira, mutilaram meu coração e
fiquei mutilada, então decidi ser outra, para a dor acabar, e não acabou, vivo
desse jeito, parecendo ser feliz, mas quero a minha infância triste, como um
sopro gélido que eu sempre fui, agora sou fútil, penso em coisas matérias, coisas
que nunca considerei importantes, infelizmente agora sou humana. A única coisa
material que acho que vale a pena seria a musica, ela me traz a infância de
volta, essas musicas podem ser depressivas, mas eu amo-as, me fazem sentir
viva, a verdadeira pessoa que sou, e quando estou sozinha trancafiada nessa
torre fria, eu me lembro de quem eu sou.
Quando saio do normal, acho que estou louca, mas
não, estou mais normal que nunca, eu estou nesse estado fora de mim 364 dias e
apenas um dia, ou seja, o 365º
dia me faz voltar a minha realidade, infelizmente me acordaram, tive que
crescer, parar de ficar no meu mundo, o mundo era meu, apenas meu. Lembro que
ficava nos dias de morte na frente do sofá, assistindo TV e devaneando em meu
mundo, a tarde toda, solitária, minha irmã trabalhava e meu irmão ficava na
rua, eu apenas em casa, sozinha e feliz. Hoje olho para o espelho, meu rosto
mal mudou, só esta maior, mas em que corpo estou? Eu era pele e osso, porque
tenho seios e pernas grossas? Onde esta meu corpo pequeno? No passado,
enterrado como ele esta enterrado, mas em minhas lembranças esta no meu quarto,
onde entro algumas vezes apenas e olho os corpos ali, vivos, meu amigo não está
morto e eu também não, estranho olhar para mim mesma, mas vejo eu, aquele
semblante pálido e triste e amo ela, amo tanto, como se fosse o único objetivo
de minha vida, perpetuar a mim mesma e ter meus filhos, imagino que serão a
minha cara, mas sei que não serão, imagino num futuro perfeito, assim como
imaginava quando era criança. Meus cabelos eram minha camuflagem, sempre em
frente ao meu rosto e eu no recreio da escola, sentava no chão, encolhia as
pernas e abaixava a cabeça, olhava para meu corpo e fechava os olhos, não
pensava em nada, quando os abria e a luz do sol me incomodava, olhava para as
crianças correndo e aquilo me dava medo e nojo, nunca quis ser igual a eles,
então meu amigo chegava e sentava-se ao meu lado e olhava a todos e eu
novamente com os olhos fechados, silêncio era nossa maior conversa, sempre foi,
ele gostava de mim, aliás, me amava e eu apenas amava como um irmão, ele era
melhor que meu irmão, pensávamos igual, éramos ambos solitários e ambos amigos,
que o destino fez certo, mas ele me abandonou, e eu odeio ele por isso, mas
ainda o amo, ainda visito seu túmulo, ainda digo que sou sua irmã, talvez eu
seja a irmã dele, talvez ele também era um sopro gélido, era também magrelo
como eu, também tinha cabelos e olhos escuros como os meus, mas minha pele era
branca como mármore e a dele um amarelo encardido e escuro, se ele não tivesse
morrido, talvez penso que éramos almas gêmeas e estaríamos juntos para o resto
da vida e agora não sentiria a amargura da solidão. Para eu, ele nunca estará
morto, nunca, esta apenas longe, estudando fotografia, embora ele tenha me traído
antes de se matar, aquela foi a pior traição, a primeira, ele me trocou por
duas humanas! E depois se matou, ele estava se sentindo solitário e a dor da
solidão, se eu soubesse, se homens contassem seus sentimentos... Mas ficam
silenciosos e remoendo por dentro, assim como eu na minha infância, remoendo a
dor que os outros me faziam passar, a raiva, chorava todos os dias, sem parar,
a escola era meu tormento, gritos, sempre gritos, aquilo me irritava, porque
ninguém era como eu? Humanos... Todos iguais... Meu conforto era estar em casa,
minha família era meu conforto, mas minha família acabou e eu também morri,
morri porque sou humana agora, antes eu era um sopro gélido, mais viva do que
ser humana, mais viva, esse sopro gélido que todos acham ser a morte, era a
verdadeira vida, era tudo para mim, era respirar de verdade, era felicidade
estar morta e em silêncio.ps: vou postar esse conto na semana de Letras da minha faculdade, desejem-me sorte! Wish luck for me!